Despedidas

Maria Avelina Fuhro Gastal

Ao entardecer, despeço-me da luz do sol para reencontrá-la no dia seguinte, se nuvens não a cobrirem. Lua e estrelas me acompanham na noite. Velam meu sono e abrem espaço para o sol antes que meus olhos se abram para o novo dia.

São tantas as despedidas.

Há as necessárias para que cresçamos, o aconchego do útero, do seio materno, do colo, da segurança familiar, dos colegas de turma escolar, da escola. Trazemos em nós as memórias afetivas, as olfativas e elas nos mantêm ligadas por um fio à sensação de felicidade.

As definitivas levam junto muito de nós. Fugimos delas até que não haja mais tempo para dizer adeus, e permanecemos com o sentimento de tanto não falado, demonstrado, entendido, manifestado. A despedida se estende pelo tempo que precisamos para aprender a viver com a ausência tornada presença por nossas saudades e memórias.

As não ditas perdem-se no silêncio do saber finalizado sem força para romper. Conduzem ao afastamento, ao vazio que busca no passado significado para a permanência corrosiva de quem já não está conosco.

As libertadoras nos impulsionam a novas possibilidades. Abandonamos com um sonoro adeus inseguranças, temores, descrenças. Rompemos grilhões, conquistamos novas trilhas sem temer desafios, tropeços, arranhões, percorrendo com passos firmes a estrada que traçamos para nós.

Não nos esvaímos nas despedidas. A criança que fomos, o amor vivido, os momentos compartilhados, o afeto dado e recebido, as esperanças depositadas, as sensações experimentadas fazem parte do que somos, permanecem no corpo e na memória. Estão tatuadas na nossa existência.

A forma com que dizemos adeus nos aprisiona ou liberta. Despedidas doem, mas não matam. Adeus calado, negado, ignorado nos traz morte em vida, colocando no outro a razão do nosso viver.

Quero me saber viva, além de todas as despedidas.

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