Manual básico de conduta para o mês de dezembro


Maria Avelina Fuhro Gastal

Dezembro é para os fortes.

Avaliação das metas propostas para o ano, planejamento para o ano que virá, confraternizações diversas, montagem da árvore de Natal, negociação para definir o local da ceia e a contribuição de cada um, lista de compra de presentes, IPVA, IPTU, profusão de amigos secretos. Último mês do ano, cansaço batendo nas alturas e, junto a tudo isso, um clima de festa e esperança que não encontra correspondência na rotina. Ficamos todos a um milímetro de perder as estribeiras.

Para não complicar o que já não é fácil, apesar da propaganda do Zaffari teimar em mostrar o contrário, preparei algumas dicas de sobrevivência com um mínimo de dignidade para o mês.

Tópico 1: amigo secreto

Se você topou participar do amigo secreto, assumiu o risco de sortear um desafeto. Lembre-se: o momento da revelação dispensa sinceridade. Redefina seu sentimento pelo sorteado e utilize eufemismos nas pistas. Tentando tornar mais claro, você tirou alguém que acha ser antipático, insuportável, arrogante e traíra. Esqueça esses adjetivos e formule algo como: meu amigo secreto não tem um riso fácil, não costumamos dividir muitos momentos, tem muita certeza nas suas atitudes e sempre age de uma forma muito peculiar.

Aproveitamento de presente não apreciado requer alguns cuidados: tenha certeza de que não foi dado por alguém que estará presente, ou pior, se não foi dado pela própria pessoa que o receberá de volta. Sugiro sempre escrever o nome de quem deu nos presentes não utilizados e guardados para futuro aproveitamento.

Tópico 2: Ceia de Natal

Quase sempre é um momento familiar, então preserve o porre para a virada do ano.

Entenda que alguns itens não são considerados como opção para contribuição para a ceia. Por exemplo, pé de alface não é salada, embalagem de batata palha não é considerada prato, caixa de Bis ou de bombom não é sobremesa.

Não reclame que o peru está seco. Com o preço dele, agradeça por estar tendo a oportunidade de saborear. Pelo mesmo motivo entenda e elogie se for servido um belo frango assado.

Esqueça qualquer comentário sobre a uva-passa.

Tópico 3: Virada do ano

Normalmente o clima é de superação, euforia e esperança. Deixe o ranço para o dia seguinte.

Evite misturar doze uvas, lentilha, salmão, porco. Dificilmente você garantirá que sua vida vá para a frente, provavelmente o único trajeto que você seguirá é entre a sala e o banheiro.

Se for levar bebida, leve o que gosta de beber. Não chegue com Polar para beber Heineken.

Mesmo com grande oferta, virada em casa de parentes e amigos não é “open bar”.

Deixe para ficar de porre depois que o novo ano tiver começado ou você correrá o risco de ficar preso ao ano que já não suporta mais. Bebedeira causa esquecimento e você não lembrará que tudo acabou e que nova possibilidade de cometer erros e fazer bobagens começou.

Se beber, não dirija, mas, principalmente, não mande mensagem ou faça ligação para: seu chefe, para um ex, para familiar ou amigo patriota que tenha votado no coisa ruim. Não torne seus primeiros momentos do ano um inferno, dilua a possibilidade em doses homeopáticas pelos próximos doze meses.

Acima de tudo, acredite que dezembro passa e que logo, logo, recomeçaremos e teremos onze meses antes de enfrentar um novo período de festas.



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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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