Maria Avelina Fuhro Gastal
O Rio de Janeiro sempre encanta. A natureza generosa em mar, rochas e morros emoldura a cidade.
Não é um lugar para se viver entre quatro paredes, enfurnado em shopping ou entocado em metrô. Há sempre um convite para se estar na rua, mesmo que as únicas atrações sejam suas paisagens, o sol ou a lua.
Diversas línguas, tons de pele, classes sociais misturam-se em suas ruas, avenidas e espaços públicos. A informalidade expressa-se nas conversas espontâneas, nos sorrisos de anônimos, na disponibilidade para conhecer novas pessoas.
O Rio preserva sua essência, mesmo que percebamos nas ruas as mazelas do nosso país.
É uma cidade viva. Há música por todos os cantos, pessoas brancas, pretas, brasileiras ou estrangeiras, jovens ou velhas, dançando nas praças, idosos e seus cuidadores caminhando na orla. As buzinas superam a música, parecem fazer parte do código de comunicação carioca, sem o som do “s”. Elas não chiam, gritam.
Não só a natureza faz com que o nosso olhar busque o horizonte. Essa é a única maneira de podermos apreciar o belo, ignorando a miséria que habita as calçadas, a fome que ela exala, o desamparo que ela denuncia.
Tom Jobim rimou “Rio, céu, mar, praia sem fim, Rio você foi feito para mim”. A cidade é isso, se o “mim” for alguém, pelo menos, da classe média brasileira. Para os outros, a rima que me ocorre é urina/creolina ou miséria/deletéria.
A cidade que tem seu contraste entre o asfalto e o morro cantado em versos de sambas-enredo, invisibiliza aqueles que não cabem lá e vivem jogados nas ruas de cá como lixos.
De novo na minha ida, além da percepção de aumento da miséria, a Bienal do Livro.
Longe para c... (como dizem os cariocas), a Bienal acontece no Riocentro. Há necessidade de compra de ingresso. R$39,00 a inteira e R$19,50 a meia, por dia, escritores publicados não pagam. Os livros estão expostos em stands das editoras que ocupam os pavilhões(fechados) do Riocentro. No mesmo local acontecem apresentações de música, teatro e dança. O barulho é enlouquecedor. Há diversas barraquinhas vendendo lanches, refeições, café, água, sorvete, açaí, doces. O preço sempre salgado.
Não senti o livro como a estrela do evento. Saí de lá sem ter comprado nenhum. É tudo “over”, editoras, shows, barracas de alimentação, menos o livro. É difícil chegarmos nele, manusearmos, cheirá-los, dar início a uma relação de intimidade.
Claro que muitos estavam com sacolas de livros comprados. Talvez sejam mais pragmáticos do que eu. Ou menos românticos. Livros, para mim, têm que estar em praças, espaços públicos, em locais de livre acesso até para quem não pode pagar ingresso.
Tenho uma certeza, ao Rio provavelmente eu volte, à Bienal, não.
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